No Brasil, um em cada sete bebês é filho de mãe adolescente e a cada hora nascem 48 bebês, filhos de mães adolescentes. 66% dos casos de gravidez na adolescência, não são intencionais, o que significa que a cada 10 adolescentes que engravidam, 7 dizem ter sido “sem querer”. Isso ocorre devido à falta de conhecimento da adolescente sobre sua saúde, seu corpo e sobre as consequências na sua vida, além do acesso limitado aos métodos contraceptivos eficazes.
Segundo nossa associada, a ginecologista Erika Krogh: “Além dos problemas de saúde que uma gravidez na adolescência pode acarretar – inclusive a morte da mãe e do feto – devemos considerar também os problemas emocionais e sociais para as meninas, cuja maturidade para a maternidade ainda não está formada, e os possíveis problemas psíquicos que podem ser causados para toda a vida, pois muitas vezes a gravidez está relacionada à violência sexual.”
Do ponto de vista socioeconômico, a gravidez precoce pode ser considerado um problema não só para as meninas mas para toda a sociedade uma vez que induz a um ciclo vicioso de pobreza e baixa escolaridade. As adolescentes em geral abandonam os estudos para criarem seus filhos, tem 3 vezes menos chances de se formarem na universidade e, segundo dados do IBGE entre 7 em 10 meninas grávidas ou com filhos, são negras, não trabalham e não estudam. Segundo relatório do Banco Mundial, o Brasil poderia aumentar a sua produtividade em US$ 3,5 bilhões por ano se as adolescentes adiassem a gravidez para depois dos 20 anos de idade.
Vivendo em um país de extensão continental, as desigualdades sociais se acentuam em desfavor das mulheres e meninas, que habitam em regiões de difícil acesso, onde a política pública não chega deixando-as mais vulneráveis a todo tipo de iniquidade, inclusive violência sexual.
De acordo com os números do DATASUS referente a 2019, é possível constatar que os partos de meninas de 10 a 14 anos apresentam maiores taxas na Região Norte: Roraima (7,3/1.000), Amazonas (6,1/1.000) e Acre (5,6/1.000). Na Região Nordeste, as maiores taxas ocorrem no Maranhão (4/1.000) e Alagoas (3,9/1.000). Taxas menores que 2/1.000 adolescentes de 10-14 anos ocorrem somente no Sudeste, Sul e no Distrito Federal.
Da mesma maneira, os partos de adolescentes de 15 a 19 anos, também são mais frequentes na Região Norte (74,9/1.000), com taxa de 110,6/1.000 em Roraima, seguido pelo Amazonas e pelo Acre, ambos com 84,6/1.000.
As gestações sucessivas na adolescência parecem decorrer de inúmeros fatores que podem fazer parte do contexto de vida da adolescente como: baixas condições socioeconômicas, início precoce da atividade sexual, baixa adesão aos métodos contraceptivos, viver em união estável ou ser casada e abandono dos estudos. Em análise multivariada, mostraram-se fatores associados: morar no interior, encontrar-se sob total dependência financeira, aborto prévio e renda familiar até um salário mínimo.
Segundo a UNESCO, essa realidade somada a pandemia da COVID-19 – que ocasionou “a interrupção de serviços e o fechamento das escolas em 194 países colocou milhões de vidas em risco. A situação na África Subsaariana revelada pelo estudo da OGG World Vision Internacional é ainda mais grave, onde cerca de 1 milhão de meninas não conseguirão regressar à escola devido a gravidez em tempos de medidas de prevenção à Covid-19”.
No Brasil, um país com distorções socioeconômicas e culturais tão grandes é fundamental que sejam implementadas e/ou reforçadas políticas públicas específicas no que diz respeito à gravidez não planejada de adolescentes e jovens. A FEBRASGO – Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia elenca alguns pontos fundamentais para reduzir as taxas de gravidez na adolescência e melhorar a qualidade de vida dos jovens e, consequentemente, do Brasil.
10 pontos fundamentais para reduzir as taxas de gravidez na adolescência
- Sensibilizar e capacitar profissionais da saúde para o atendimento de adolescentes e promover reciclagem periódica destes profissionais;
- Garantir o fornecimento de métodos contraceptivos gratuitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), incluindo os LARCs;
- Promover rodas de conversa com Grupos de Adolescentes e formar entre eles, agentes multiplicadores;
- Estimular o envolvimento dos adolescentes na criação de aplicativos ou vídeos educativos com divulgação monitorada;
- Promover interface com as Secretarias de Educação, Saúde, Cultura e Esporte e poder público, executivo e legislativo, buscando ações para medidas legislativas;
- Estabelecer parceria com Instituições de Ensino Superior nas áreas de saúde, educação, esporte, cultura e entidades cientificas;
- Incentivar pesquisas na rede pública com financiamento e premiações;
- Estabelecer linha de cuidado nas UBS e nas unidades de Programa da Família;
- Criar espaços de atendimento em locais vulneráveis;
- Estimular a troca de experiências exitosas interestaduais nacionais e internacionais. 26”.
Fonte: Febrasgo