Janeiro é o mês o mês escolhido como símbolo da saúde mental, o “Janeiro Branco”. A ideia de recomeço, e o desejo de renovação parecem ser ideais para uma reflexão mais profunda, para a resolução de problemas, repensarmos nossas atitudes, para (re) começar a colocar em prática todos os planos, de fazer o melhor e, metaforicamente, nossa “página em branco” receber uma nova história.
Mas a realidade que vem sendo imposta a nós, profissionais de saúde, não nos dá tanta chance para isso. Os números da pandemia – que durante alguns meses estiveram controlados – voltam a crescer e, como sempre soubemos, as outras doenças não “pararam” por causa dela. Prova disso é agora o surto de H1N1 que vem tomando força no Brasil e no mundo.
Como Presidente da AMB Maranhão acompanho mais de perto como anda a saúde de nossos colegas. “Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) identificou altos níveis de síndrome de Burnout e depressão em profissionais da saúde de todo o Brasil. (…) Técnicos de enfermagem (201 profissionais entrevistados): 68,2% com alto nível de burnout e 68,7% com depressão clinicamente significativa; Médicos (346 profissionais entrevistados): 45,6% com alto nível de burnout e 42,9% com depressão; Enfermeiros (150 profissionais entrevistados): 60% com alto nível de burnout e 55,9% com depressão; Psicólogos (126 profissionais entrevistados): 39,7% com alto nível de burnout e 33,6% com depressão; Demais categorias profissionais incluídas no estudo (como um grupo misto de 213 profissionais de diversas outras categorias): 56,3% com alto nível de burnout e 60,6% com depressão.”*
A médica Carolina Moser, psiquiatra do Departamento de Atenção à Saúde da UFRGS e responsável pela pesquisa, analisou os profissionais do Rio Grande do Sul mas acredito que, infelizmente, que os percentuais nos demais Estados são idênticos ou muito próximos a esses.
Baseados nessa pesquisa e em tantas outras espalhadas pelo mundo – e não referentes apenas ao período da pandemia – nós profissionais da saúde devemos entender e aceitar que a saúde mental importa tanto quanto a física. É fato que as profissões ligadas à saúde médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem em especial – sejam caracterizadas pela resiliência mas sabemos que todos podemos desmoronar em um cenário difícil como o que estamos vivendo nos últimos dois anos.
Desta forma, a saúde mental não pode ser negligenciada. É preciso falar, desabafar, se permitir sentir a dor, o cansaço.
É necessário ainda, que as instituições onde trabalhamos e as nossas associações se debrucem sobre o tema e criem mecanismos para diagnosticar, tratar e apoiarmo-nos para que cuidemos da nossa saúde mental, para que possamos continuar cuidando da vida de tantas outras pessoas.
José Albuquerque
Presidente da AMB Maranhão