O Dia Internacional da Mulher, foi oficializado pela Organização das Nações Unidas em 1975. Essa data simboliza a luta histórica das mulheres para terem suas condições equiparadas às dos homens. Inicialmente, essa data remetia à reivindicação por igualdade salarial, mas, atualmente, simboliza a luta das mulheres não apenas contra a desigualdade salarial, mas também contra o machismo e a violência, nos mais diversos âmbitos sociais.
Inúmeros estudos comprovam que ainda hoje as mulheres sofrem com a desigualdade no mercado de trabalho em relação aos homens. A sua presença no mercado de trabalho ainda é menor do que a dos homens, uma vez que dados de 2018 apontam que, no mundo, apenas 48% das mulheres maiores de 15 anos estão empregadas – para os homens, esse número é de 75%.
As mulheres ainda sofrem prejuízos no mercado de trabalho por engravidarem, uma vez que o número de mulheres que abandonam o seu trabalho por conta de seus filhos chega a 30%, enquanto somente 7% dos homens abandonam seus empregos pelo mesmo motivo.
Para agravar essa situação, metade das mulheres que engravidam perdem seus empregos quando retornam da licença-maternidade e ainda, em pleno século XXI, existem aqueles que defendem que elas devem ganhar menos, simplesmente por poderem engravidar. Isso, inclusive, é uma realidade no Brasil, pois as mulheres recebem, em média, 20% menos que os homens.
Todas essas estatísticas demonstram como o preconceito de gênero prejudica as mulheres no mercado de trabalho. As mulheres, no entanto, não têm a sua vida prejudicada somente no mercado de trabalho, uma vez que a violência de gênero, o abandono que muitas sofrem de seu parceiro durante a gravidez e os assédios são realidades que muitas mulheres sofrem.
Ao longo da história, algumas profissões foram consideradas tradicionalmente masculinas, como é o caso da Medicina. O ofício da cura era exclusivamente masculino, até 1849, quando a americana Elizabeth Blackwell se tornou a primeira mulher a receber o título de médica no mundo, após dez universidades terem rejeitado sua admissão. Trinta anos depois, Maria Augusta Generoso Estrela foi a primeira brasileira a se graduar em medicina, nos Estados Unidos, uma vez que era vedado às mulheres o acesso ao ensino superior no Brasil.
A tendência mundial é que as mulheres sejam maioria na Medicina. No Brasil as mulheres serão maioria entre os médicos a partir do ano de 2024. Entre os anos de 2009 e 2022, o número de mulheres evoluiu de cerca de 133.000 para aproximadamente 260.000, ou seja, quase dobrou na série histórica. Entre os homens, o crescimento foi mais lento no mesmo período, com acréscimo de cerca de 43%. Entre 2023 e 2035, período projetado, o crescimento previsto entre as médicas será de cerca de 118%, enquanto, entre os homens, será de 62%.
Alguns estudos apontam que a feminização da Medicina pode trazer vantagens para os sistemas de saúde, pois as mulheres médicas se adequam melhor ao funcionamento da atenção primária e das equipes multiprofissionais; estariam mais propensas a harmonizar a relação médico-paciente; adotam estilos democráticos de comunicação; promovem relacionamentos colaborativos; discutem mais os tratamentos e envolvem os pacientes em tomadas de decisão; têm uma abordagem mais orientada para prevenção; e são menos inclinadas a incorporar tecnologias desnecessárias, e oferecem um melhor atendimento às populações em contexto de vulnerabilidade bem como um maior respeito às preferências individuais dos pacientes.
Por outro lado, as médicas costumam trabalhar em um menor número de horas, com tendência a uma jornada de trabalho parcial, fazem menos plantões e são menos propensas a migrações territoriais. No Brasil, as médicas recebem menor remuneração; têm número de vínculos e carga horária equivalentes aos homens; e são minoria em 38 das 53 especialidades, o que aponta para desigualdades de gênero no exercício da Medicina no país. Esses números mostram, que precisamos trabalhar para que as médicas sejam mais valorizadas, e possam exercer a Medicina em igualdade de condições com os homens.
É necessário que as instituições médicas estejam atentas e mobilizadas, para corrigirem estas distorções ainda existentes entre médicos e médicas. Um longo e árduo caminho foi percorrido pelas mulheres para que hoje possam exercer a medicina plenamente.
Esta luta deve continuar, até que as mulheres sejam protagonistas das suas decisões em todas as áreas da vida, com remuneração igualitária, divisão de trabalho doméstico e de cuidados não remunerados, e o fim de todas as formas de violência contra a mulher.
Desta forma o Dia Internacional da Mulher não é apenas uma data comemorativa, voltada para homenagear as mulheres, mas um momento para à reflexão de como elas são tratadas pela nossa sociedade. Essa reflexão vale tanto para o campo do convívio afetivo, familiar e social quanto para as questões relacionadas ao mercado de trabalho.
A AMB parabeniza a todas as mulheres, em especial as médicas, neste dia internacional da mulher.
Jose Albuquerque de Figueiredo Neto
Presidente da Associação Médica do Maranhão
Fonte:
SCHEFFER, M. et al. Demografia Médica no Brasil 2023. São Paulo, SP: FMUSP,AMB, 2023. 344 p. ISBN: 978-65-00-60986-8.
SILVA, Daniel Neves. 8 de março – Dia Internacional da MulherBrasil Escola – Dia Internacional da Mulher 2023 – Organização Pan-Americana da Saúde.