AMB Maranhão

Palavra do Presidente: Demografia médica brasileira 2023. Um grito de alerta

Nos últimos 13 anos, de 2010 a 2023, 251.362 novos médicos passaram a atuar no Brasil.
AMB Maranhão

Assessoria de Comunicação AMB/MA

fev 13, 2023

Os dados recém-publicados, do estudo da demografia médica do Brasil, apontam que em janeiro de 2023, o Brasil contava com 562.229 médicos inscritos nos 27 Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), o que correspondia à taxa nacional de 2,60 médicos por 1.000 habitantes. Estes números apontam, que em pouco mais de duas décadas, o número de profissionais mais do que dobrou. No mesmo período, a população geral do país cresceu cerca de 27%. Isso significa que, dos 548.206 médicos em atividade em 2022, mais da metade entrou no mercado de trabalho depois do ano 2000. Nos últimos 13 anos, de 2010 a 2023, 251.362 novos médicos passaram a atuar no Brasil, reflexo direto da abertura indiscriminada de cursos e de vagas de graduação em medicina.

Mais de um milhão de médicos estarão em atividade no Brasil no ano de 2035. A juvenização da população de médicos será um fenômeno marcante nos próximos anos, a média de idade do médico brasileiro vai decrescer e, segundo a projeção, no ano de 2035 mais de 85% dos profissionais terão idade entre 22 e 45 anos. Além de uma população mais jovem de médicos, as mulheres tenderão a aumentar nas faixas etárias inferiores. No ano de 2035, entre médicos até 40 anos de idade, mais de 70% serão mulheres, enquanto os homens não devem chegar a no máximo 60%. Além de numerosa, a população de médicos será mais feminina, mais jovem e, provavelmente, mais desigualmente distribuída no país.

Diferentemente do argumento utilizado para a proliferação de cursos de graduação, de que o aumento do número de médicos, corrigiria as distorções, o aumento da oferta de médicos, apesar de expressivo, não alterará, por si só, as desigualdades de distribuição geográfica desses profissionais no Brasil. Ao contrário, poderá haver acirramento das disparidades de concentração de médicos. Das 27 unidades da Federação, 18 delas irão apresentar densidade de profissionais por 1.000 habitantes abaixo da estimativa nacional projetada em 4,43 para 2035. Se medidas não forem adotadas, estará mantida ou será agravada a desigualdade de distribuição geográfica, o que fará persistir a escassez localizada de profissionais, mesmo em cenário de maior e crescente oferta global de médicos.

Aproveitar o potencial de uma força de trabalho jovem a favor do Sistema Único de Saúde (SUS) requererá também compreender mudanças geracionais, com possíveis novas aspirações, escolhas e motivações relacionadas a vínculos, jornadas, especialidades, remuneração, uso de tecnologias e conciliação mais equilibrada entre vida pessoal e profissional. Será, portanto, necessário rever e impulsionar políticas e programas de distribuição e retenção de médicos em áreas desassistidas e de menor densidade de profissionais por habitantes. Não é importando médicos estrangeiros ou aumentando o número de egressos que vamos corrigir essa distorção, mas através de políticas públicas no sentido de interiorizar o profissional, propiciando condições adequadas de trabalho e remuneração justa.

As entidades médicas defendem o financiamento adequado da saúde, permitindo a melhoria e a implementação da nossa rede de atendimento nos níveis primário, secundário e terciário, além de uma política salarial mais justa, inclusive prevendo a criação da carreira de médico como carreira típica de estado, semelhante à do Judiciário, projeto que tramita no Congresso Nacional, para que se possa assegurar uma assistência mais digna à população brasileira.

Dr. Jose Albuquerque de Figueiredo Neto
Presidente da Associação Médica do Maranhão
Corregedor do Conselho Regional de Medicina do Maranhão

Fonte: SCHEFFER, M. et al. Demografia Médica no Brasil 2023. São Paulo, SP: FMUSP, AMB, 2023. 344 p. ISBN: 978-65-00-60986-8.

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